As editoras brasileiras estão lançando publicações no formato ePub em um ritmo crescente. De um modo geral, os e-books das principais editoras estão saindo bem produzidos naquilo que é básico – textos sem erros de conversão e sem caracteres faltando, felizmente, parecem ser a regra geral.
Visualmente, acabam ficando todos meio parecidos, com uma ou outra diferença, aqui e ali. Em termos de recursos, o padrão atual do formato ePub (ePub 2) é limitador, tanto que 10 entre 10 diagramadores torcem o nariz, quando descobrem as coisas que ainda não podem fazer. E mesmo com um visual limitado, existem e-books que exploram mais recursos do que outros. E nem todos se limitam à estética.
Para vermos na prática as diferenças que podem existir, vou pegar 3 livros em ePub produzidos por grandes editoras brasileiras e comparar capa, identificação, sumário, visual do texto e notas/referências (essas apenas em dois deles): A Cidade Ilhada (Milton Hatoum / Companhia das Letras), 1822 (Laurentino Gomes / Nova Fronteira – Ediouro) e Filosofia do Tédio (Lars Svendsen / Jorge Zahar).
Algumas informações relevantes dessa comparação: o e-book da Zahar foi convertido de Indesign para ePub por nós, aqui na Simplíssimo. Todos os livros foram abertos no Adobe Digital Editions, em um computador com resolução 1280×800. Embora eu tenha comprado o 1822 no Ponto Frio dia 10/10 e o pagamento tenha sido aprovado em 15 minutos, não recebi nenhum link para baixar o e-book ou para ir numa estante virtual fazer isso. Então essa comparação foi feita com a amostra do e-book oferecida grátis no site. E se alguém do Ponto Frio estiver lendo, por favor, dê uma olhada na Plataforma STEALTH, nosso sistema para distribuição de e-books, se vocês usassem o STEALTH eu já teria recebido o meu e-book
Por que comparar os e-books no computador, e não em um e-reader? Porque a esmagadora maioria dos leitores brasileiros ainda não tem um e-reader, e quando tem, pode ser um entre vários modelos. Mas todos os leitores têm um computador… a maioria com Windows, que roda o Adobe Digital Editions.
As capas dos e-books
Capturei a tela do Adobe Digital Editions mostrando a capa e o sumário automático produzido nos arquivos ePub. Nas outras páginas, eu oculto o sumário.
A escolha do pessoal da Companhia das Letras foi feliz, na minha opinião. O fundo preto destacou mais a capa, do que o fundo branco nas capas dos outros e-books.
A capa do 1822 não se ajustou perfeitamente na tela. Faltou um pequeno ajuste no ePub, para deixar o posicionamento da capa idêntico ao dos e-books da Companhia e da Zahar.
O sumário automático do ePub, como podemos ver aumentando o tamanho da imagem (clique nelas para vê-las maiores), mostra que alguns cuidados simples podem dar mais elegância a esse recurso.
Letras capitulares, como no sumário do 1822, não parecem muito elegantes. É questão de gosto e é um problema bem menor, quando comparado ao sumário de A Cidade Ilhada, que emprega palavras em inglês no sumário de um e-book em português – Cover ao invés de Capa, Title Page, Chapter no lugar de Capítulo.
O sumário de Filosofia do Tédio mostra que livros com subcapítulos podem tirar proveito do padrão ePub, utilizando níveis a partir do capítulo inicial (sinal “+” ao lado dos capítulos, na imagem). É uma forma de deixar o sumário mais elegante, especialmente quando há muitos subcapítulos e subitens.
Páginas de apresentação
Um recurso bastante utilizado atualmente (mas funcional apenas no Adobe Digital Editions) é um template de página que, de acordo com a largura da tela, adapta o texto para uma, duas ou três colunas.
Uma peculiaridade do e-book 1822 é que, embora ele esteja programado para fluir em 2 colunas no ADE, o texto não ficou em 2 colunas na resolução que defini antes de começar esse post.
Espichando um pouco mais a tela, o texto do 1822 aparece em duas colunas.
Em A Cidade Ilhada, podemos notar que o logo da Companhia das Letras aparece à direita. Não sei até que ponto foi intencional esse posicionamento e fico na dúvida se não é melhor seguir a solução encontrada no 1822 e Filosofia do Tédio, em que todo o conteúdo fica centralizado sem nada aparentemente “boiando”. É uma opinião estética…
Um detalhe que ficou de fora da imagem, no e-book 1822, é o logotipo da Nova Fronteira – ele caiu para a página seguinte.
Considerando que a apresentação do livro geralmente fica na 2ª ou 3ª página do e-book, um arranjo bem feito é importante para a impressão inicial do leitor.
Nada muito diferente do papel, afinal.
Texto e estilos de parágrafos
Do ponto de vista dos leitores, talvez este seja o ponto de comparação mais explícito.
Está certo que o formato ePub é limitado em termos de diagramação. Muitas coisas que podemos fazer no livro impresso, não conseguimos reproduzir no ePub… o que não pode justificar relaxamento e falta de capricho.
A Cidade Ilhada poderia ser apresentado com o texto justificado. O primeiro parágrafo poderia ganhar destaque. Existem livros grátis do Projeto Gutemberg e da Editora Plus que estão com uma diagramação em ePub muito melhor do que esta.
1822 e Filosofia do Tédio estão muito bons. O texto está justificado, o primeiro parágrafo ganha destaque. No caso do 1822, o título do capítulo poderia ser melhor destacado, como nos outros dois e-books, embora essa seja uma opção estética.
Repare que em Filosofia do Tédio, abaixo do número do capítulo, podemos ver um sublinhado diferente. Além disso, quando é feita uma referência a um dos capítulos, esta referência é linkada – ou seja, o leitor pode tocar/clicar na referência e ir diretamente para aquele capítulo. Este tipo de recurso faz parte do padrão ePub. A grande maioria dos e-readers também reproduz essa função de link entre partes do texto, de modo que as editoras podem tirar muito proveito desse recurso.
Notas e referências linkadas
Um dos melhores recursos do formato ePub é o link entre partes do próprio texto, para direcionar o leitor a conteúdos e informações de referência com muita agilidade e sem esforço. Essa sim é uma das grandes vantagens dos e-books em ePub, que podem ser muito melhor aproveitadas pelas editoras aqui no Brasil.
Como o arquivo ePub nada mais é do que um arquivo HTML adapatado, linkar partes do texto entre si (âncoras) é um dos recursos mais fáceis de implementar – requer apenas conhecimento básico de HTML. Claro que o fato de ser fácil não quer dizer, de forma alguma, que seja algo rápido de ser feito. Imagine aqueles livros com centenas de referências… dá trabalho fazer bem feito. E precisa ser feito.
O que pude observar na amostra grátis do 1822 é que ele tem as referências, mas as notas são posicionadas ao final de cada capítulo, sem links. Talvez o e-book completo não tenha esse problema, ainda não recebi o original como disse antes… a ausência de links nas referências dificulta bastante a vida do leitor. Imagine a situação. Ele está lendo o texto e vê uma referência importante, que ele quer ler antes de prosseguir. Sem o link, ele vai ter que navegar manualmente até o final do capítulo, ou onde for, para encontrar a tal referência. E depois voltar, também manualmente, até onde estava… dá muito mais trabalho que no livro impresso e não tem vantagem alguma sobre um livro impresso. Na hora, isso pode ser muito irritante. E se precisar fazer isso repetidas vezes… me dá pena só de pensar.
Se as referências fossem linkadas, seria uma mão na roda. Em dois toques o leitor leria a referência e voltaria aonde estava no texto, como fizemos em Filosofia do Tédio. Até a explicação fica mais curta…
Considerando o preço pelo qual os e-books são vendidos no Brasil – muito próximo do preço das versões impressas – o mínimo que os leitores merecem é um e-book com funções completas e impecáveis. Capricho e atenção nos detalhes fazem toda a diferença na hora de produzir qualquer livro, seja de papel, ou seja e-book. Felizmente, pelo que podemos ver, as editoras brasileiras estão se esforçando para chegar lá. Com o tempo, elas vão conseguir entregar e-books de primeira qualidade aos leitores.